O recente aumento nos desafios e proibições de livros nos Estados Unidos gerou preocupações entre educadores, bibliotecários e defensores da liberdade de expressão. De acordo com um relatório da American Library Association (ALA), houve um aumento significativo nos desafios aos livros que exploram temas de raça e experiências LGBTQ+. Essa escalada na proibição de livros levou a discussões sobre o papel da censura e o potencial impacto na liberdade de ler.
Um exemplo destacado no relatório é o caso de Clayton, Missouri, onde uma edição ilustrada de "The Handmaid's Tale", de Margaret Atwood, foi inicialmente incluída nas bibliotecas do ensino médio. No entanto, depois que os legisladores do Missouri aprovaram uma lei em 2022 que impôs multas e possível prisão por permitir materiais sexualmente explícitos nas estantes, o distrito reconsiderou e retirou o livro. Esse incidente reflete a tendência crescente de legisladores considerarem novas punições para a distribuição de livros considerados inadequados.
O aumento dos desafios e proibições de livros não se limita ao Missouri. Em todo o país, bibliotecas públicas e escolares têm enfrentado reclamações de membros da comunidade e organizações conservadoras. Muitos desses desafios envolvem livros que apresentam temas raciais e LGBTQ+, como "The Bluest Eye", de Toni Morrison, e o livro de memórias de Maia Kobabe, "Gender Queer". A controvérsia em torno desses livros resultou em autocensura, já que bibliotecários e educadores temem as possíveis consequências da distribuição de materiais que podem ser considerados ofensivos.
Legisladores em mais de 15 estados apresentaram projetos de lei para impor duras penalidades a bibliotecas e bibliotecários. Por exemplo, Utah promulgou uma legislação em março que dá poderes ao procurador-geral do estado para aplicar um novo sistema de contestação e remoção de livros "sensíveis" de ambientes escolares. Idaho também está considerando um projeto de lei que permitiria aos promotores apresentar acusações contra bibliotecas que não movem materiais "prejudiciais" para longe das crianças.
Esses desenvolvimentos recentes levantaram preocupações entre defensores da liberdade de expressão e organizações como a Associação Americana de Bibliotecas. Eles argumentam que essas leis são projetadas para limitar as proteções legais que as bibliotecas desfrutam há décadas. Desde a década de 1960, bibliotecas e educadores estão amplamente isentos de ações judiciais ou acusações criminais relacionadas à distribuição de materiais para crianças. No entanto, a recente onda de legislação busca desafiar essas proteções, deixando bibliotecários e educadores vulneráveis a consequências legais.
A questão central desses debates é como definir termos como "obsceno" e "prejudicial". Os críticos argumentam que os ataques a livros com temática LGBTQ+ são tentativas de suprimir a visibilidade e o conhecimento sobre as vidas e experiências de indivíduos LGBTQ+. Eles veem esses desafios como ataques à liberdade de ler e ao direito de acessar perspectivas e vozes diversas.
Embora nenhum bibliotecário ou educador tenha sido preso como resultado dessas leis, o medo de possíveis consequências legais levou à autocensura. Bibliotecários e educadores estão tomando decisões difíceis sobre quais materiais incluir em suas coleções, muitas vezes errando do lado da cautela para evitar controvérsias e problemas legais.
O impacto das proibições e dos desafios dos livros vai além de bibliotecas e comunidades individuais. Isso levanta questões sobre as implicações mais amplas para a liberdade intelectual e a capacidade de acessar literatura diversificada. Os críticos argumentam que essas leis sufocam a criatividade, limitam as oportunidades educacionais e perpetuam uma cultura de censura.
À medida que o debate continua, é crucial considerar os potenciais efeitos de longo prazo dessas leis sobre a educação, a liberdade intelectual e o direito de acesso a diversas perspectivas. O futuro da liberdade de ler depende de encontrar um equilíbrio entre a protecção das crianças e a preservação dos princípios fundamentais da liberdade intelectual e do acesso aberto à informação.